quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Amigos


Os dois eram grandes amigos. Amigos de infância. Amigos de adolescência. Amigos de primeiras aventuras. Amigos de se verem todos os dias. Até mais ou menos os 25 anos. Ai, por uma destas coisas da vida – e como a vida tem coisas! – passaram muitos anos sem se ver. Até que um dia...
_ Eu não acredito!
_ Não pode ser!
Caíram um nos braços do outro. Foi um abraço demorado e emocionado. Deram-se tantos tapas nas costas quanto tinham sido os anos de separação.
_ Deixa eu te ver!
_ Estamos ai!
_ Mas, você está careca!
_ Pois é.
_ E aquela cabeleira? Fazia um sucesso.
Pois é.
_ Puxa. Deixa eu te ver atrás.
Ele se virou para mostrar a careca atrás. O outro exclamou:
_ Completamente careca!
_ E você?
_ Espera ai. O cabelo esta todo aqui. Um pouco grisalho, mas firme.
_ E essa barriga?
_ O que é que a gente vai fazer?
_ Boa vida...
_ Mais ou menos...
_ Uma senhora barriga. Aposto que futebol, com essa barriga...
_ Nunca mais.
_ Você batia um bolão hein [...]
_ Também vinte anos né...
_ Vinte cinco...
_ Você mudou um bocado.
_ Você também.
_Você acha?
_ Claro!
_ Careca... [...]
_ Ah não, cabelo outra vez! Mas isso já é obsessão. Eu se fosse você, procurava um médico.
_ Vá você, que esta precisando. Se bem que velhice não tem cura.
_ Quem é que velho?
_ Ora, faça-me o favor...
_ Velho é você...
_ Múmia!
_ ah, é? Ah, é?
_ Cacareco! Ou será cacareca?
_ Saia da minha frente!
Separaram-se, furiosos. Inimigos para o resto da vida.
(E ainda tem gente que não entende a polidez falsificada e quase escancarada das mulheres)

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