sábado, 30 de janeiro de 2010

Acabou


De repente, a pessoa tão familiar que está na frente de você do outro lado da mesa do restaurante se transforma num desconhecido. Em um estalo de dedos, anos de convivência se apagam completamente, como se um gigante tivesse passado uma borracha no álbum de fotos criado pela memória dos dois. O mal-estar é recíproco, mas de natureza diferente.
Ao contrário do que dizem os poetas, amor acaba, sim. Não há nada de romântico nisso, apenas uma verdade pragmática e palpável..Se você tem apenas um copo d’água para beber, é bom saciar a sede antes do copo ficar vazio. Às vezes apenas esse copo é suficiente, mas há ocasiões em que nem todos os mares do mundo podem acalmar seu coração.
Então é isso. Fim.
Quando o amor acaba, o monstro que estava escondido debaixo do tapete da
sala acorda e domina rapidamente o apartamento. Frases que nunca deveriam
ter sido sequer pensadas são pronunciadas com a determinação dos carrascos. Não se pode atravessar uma ponte que foi queimada; com as palavras acontece a mesma coisa.
Agora os dois se olham e sabem que não têm mais o que fazer. Dentro deles há uma dor contínua, uma tristeza que sai pelos olhos. Os dois corações estão vazios, porque no lugar daquele amor todo agora não existe nada. E a vida segue assim, imperfeita, mas com sentimento de que nem tudo que vivemos juntos foi ruim, serviu de aprendizado e amizade ainda pode existir.