sexta-feira, 12 de setembro de 2008

¤ENCONTRO COM O MUNDO REAL¤


Há algum anos atrás tive meu primeiro encontro com o mundo real, foi doloroso e gratificante. Hoje anos mais tarde me vi diante de uma situação semelhante, dessa vez eu estava do outro lado. Pela experiência de vida e por ter passado por semelhante situação, tive impulsos de tomar as rédias da situação e resolver tudo de maneira prática e usando da minha autoridade. Pensei bem e lembrei do que havia acontecido comigo e percebi que não deveria interferir naquela momento.

Crianças, são naturalmente sinceras e demasiadamente cruéis. Percebi isso quando tinha 10 anos, e foi ai que tive meu encontro com o mundo real. Naquela época eu não entendia que beleza e bons relacionamentos era status para algumas pessoas. E eu sempre fui a gordinha da turma, aquela sobre a qual recaía todos os apelidos. Mas eu era inteligente, era brigona e na hora do aperto as pessoas corriam atrás do meu socorro; Eu achava isso bacana e acreditava que por me procurarem eu era uma boa amiga. Descobri que as coisas não eram assim quando chegou o dia da escolha de pares para a festa junina da nossa escola. A professora, toda empolgada pediu que formássemos pares para começarem o ensaio da nossa festa. Conforme os pares iam se formando, pouco a pouco meu sorriso foi desaparecendo, passei a sentir um aperto no coração pois a escolha estava terminando todos tinham seus pares – menos eu. Garotas podem ser dissimuladas e sutis quando destilam seu veneno. Não houve entre elas muitos sinais de cabeça, piscadela ou cutucadas, mas pude perceber que havia no rosto delas uma certa satisfação com o meu mal-estar.
Naquela tarde, voltei pra casa no “piloto automático”, estava cheia de mágoa e com a sensação de ter sido esquecida. Sentia a garganta seca, e alguma coisa me queimava o estômago, minha cabeça estava confusa. Como pode, pessoas que sempre estudaram comigo, sempre se mostraram amigos poderiam ter feito isso comigo. Cheguei em casa calada e não comentei nada, minha mãe já havia arrumado um vestido pra eu dançar a quadrilha, como eu iria explicar pra ela que ninguém havia me escolhido. Eu sempre muito reservada em relação a emoções, me calei e fui para meu quarto. Teria que pensar em uma maneira de convencer minha mãe – que era flexível como uma pedra – de que eu estava doente e não poderia ir para escola no dia seguinte. Fiquei com o estômago embrulhado só de pensar como seria o dia seguinte... Acabei me arrastando até a escola no dia seguinte, mal levantava os olhos quando entrei na sala, fiquei lá no meu cantinho...Até que a professora me chamou no cantinho e me disse: Querida, ontem alguns alunos da 6º série vieram me procurar e perguntaram se eu poderia te liberar para ensaiar a quadrilha com eles; Querem que você faça parte da coreografia que eles estão montando. Se você aceitar vai dançar com o Mauricio, que está lá fora esperando pela sua resposta. Meu rosto irradiou de tamanha felicidade, nem respondi a ela que queria, simplesmente me levantei e sai correndo da sala. Foram horas de pura alegria, aquelas que passei ensaiando com os alunos da 6º série. Depois já de volta pra casa, fiquei pensando se talvez aquilo tudo não teria o dedo e a compaixão da minha querida professora, mas fiquei mais feliz ao saber que não. Os alunos da outra série, realmente tinham me escolhido, e tudo isso porque há algum tempo atrás eu tinha lhes ajudado na arrecadação de prenda escolar.
Naquela época, eu achei a situação toda muito confusa. Foi uma lição dura, mas eu comecei a aprender, lentamente que os amigos de verdades são muito raros e, é certo que eles não conhecem barreiras de cor, sexo, peso, altura, idade e nem distância. Eu era mais nova, de outra turma, a “feinha” da turma e nem por isso deixaram de me escolher e me aceitar como parte deles. Hoje na sala de aula presenciei algo parecido, os alunos deixando alguém de lado porque a julgam incapaz...Tive vontade de tomar a frente, e exigir que a incluíssem no grupo. Mas percebi...é a hora dela ter o encontro com o mundo real, vai ser doloroso mas o aprendizado será fascinante.
¤VSS¤
09/09

2 comentários:

Anônimo disse...

Menina
Achei teu blog meio ao acaso. Percebo que está começando com esse lance de publicar agora. Mas vejo que já é mestre em encantar com as palavras. Escreves bem e tens um dom admiravel.
Com Carinho Pedro

Anônimo disse...

Vany
como é cruel o preconceito, eu tbem tive meus momentos de encontro com a vida real. Ajudar? sim acho q me ajudou, mas tbem me fechou, sou covarde a dor me tranquei para nao senti la mais.
Mas tdo nessa vida nos engrandece de alguma forma, nos faz mais humanos, e mais sensiveis as dores dos outros, talvez esse tenha sido meu aprendizado.
Temos um amigo em comum, o lucas, lembra? a mtos anos aprendi com esse amigo querido, q cada um tem seu momento pra viver e que nao adianta eu tentar amenizar a dor, ou disfarça la, pq isso só o tempo pra curar e ensinar, assim eu tbem aprendi q a dor, o choro, a angustia etc... faz parte do nosso aprendizado.
amo vc.